O corpo sem alma

28/04/2011
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Estamos perdendo os momentos mágicos da vida entre enlatados e produtos superficiais destinados a uma melhoria de vida, contudo essa tal condição “melhor” é muitas vezes a causa de nossos maiores problemas. Paradoxo? Bem vindo ao maravilhoso mundo das marcas.

A experiência de parar num parque, de sentir a brisa ou simplesmente ficar ali contemplando e esquecendo o tempo poderia bem ser um momento extraordinário, mas ninguém tem tempo para isso, pois os verdadeiros templos da atualidade são as telinhas da tv e internet, e nelas estamos compressos feito sardinhas. Prontos para venda!

A aura dos objetos, ou os instantes sagrados deixaram de serem coisas naturais de nossas vidas e patenteadas parecem apenas no mundo das marcas(publicidade) ou no melhor dos casos quando você tem uma conta corrente gigantesca.

Por quê?

“Observar, em repouso, numa tarde de verão, uma cadeia de montanhas no horizonte, ou um galho, que projeta sua sombra sobre nós, significa respirar a aura dessas montanhas, desse galho. (...)" (Benjamin, 1985, p. 170).

Sentado na esquina de sua casa você escuta ao longe uma musica que te traz belas lembranças, uma sensação de bem estar percorre seu corpo, sim, você está vivendo aquele momento mágico captando a aura da musica, sendo feliz, ou quaisquer outras palavras, todavia, o que fazemos?

Saímos dali e corremos para baixar ou comprar a tal musica, ou o seu disco nas prateleiras dos melhores shoppings.

Perdemos o quê?

Sorria você está sendo comprado

 As grandes marcas em seus comercias aproveitaram isso e sempre estão nos mostrando e vendendo esse Holy Moment em suas propagandas. Tornou-se algo privado apenas delas o direito de uma vida ou o deleite de sentir essa tal felicidade.

O comercial de refrigerante mostrando dentro de suas maquinas outro mundo possível cheio de esperança e criaturas sobrenaturais, uma aventura que não pode ser perdida e é tão barata, afinal está contida dentro de uma garrafinha.

A emoção de comer um grande sanduiche, cheio de amigos e alegria jorrada nos seus molhos especiais. Sentado em lugares espaciais onde todo mundo é jovem e bonito, tudo apimentado e engordurado por muita carne, molho e ótimos refrigerantes. Que tal esta aventura?

As propagandas se apropriaram de nossos pequenos momentos mágicos e instantâneos e os vendem de forma serial como mercadoria, ou como estado alcançado através do consumo, uso dos seus produtos. Abuso de seus insumos.

Como poderiam os trabalhadores dessas empresas venderem tais sanduiches e refrigerantes cercados por tal aura catártica se esses mesmo empregados tem salários baixos, baixa estima e desestimulante crescimento no setor.

As marcas, com seus slogans e coisa-propaganda criam um Frankstein. Retalhado, costurado, sem alma e pior ainda; com uma historia pessoal, futuro, passado e presente que é ser o seu maior presente.

A criatura subjuga o criador.

Aquilo que deveria servir para nossa expansão termina por nos escravizar.

Sonhos não podem ser comprados!

O único momento nosso será nossa morte terrena e mesmo assim a imagem poderá ser vendida e reeditada por toda a eternidade, nossos perfis ficaram vagando pelo mundo cibernético. Nossa falta não será sentida, será vendida!

Referências: “ O novo corpo da aura”; Marcelo Fonseca Alves

https://www.alainet.org/de/node/149359?language=es

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