A força do sonho
12/04/2006
- Opinión
Não há quem não saiba. Corria o ano de 1948 quando a vida pacata de pastores e pequenos proprietários, plantadores de oliveiras, foi transformada em dor. Demarcado a força, sem que ninguém pudesse se expressar em contrário, nasceu um país dentro de uma nação. Era o estado de Israel, criado em território palestino depois da segunda guerra para tentar amainar as marcas do holocausto. Ninguém nega o sofrimento do povo judeu e muito menos o direito que tem de encontrar um lugar onde descansar a cabeça no seu espaço originário. Mas, nada pode ser feito como foi. Na violência, no massacre, no assassinato – repetindo a mesma desgraça que antes viveram eles, os judeus, agora imposta ao povo palestino, obrigado a migrar, fugir, sumir pelo mundo num outro êxodo.
Mesmo com toda a luta e resistência, o estado de Israel se impôs, armado e auxiliado pelo mestre da guerra: o governo dos Estados Unidos. Durante todos esses anos os palestinos têm vivido confinados em pedaços do território, sofrendo as maiores violências. Vez ou outra assoma uma luta mais feroz, homens e mulheres se explodem em desespero e vingança, e a morte, o sangue, as lágrimas acabam sendo elementos comuns nos dois povos. Uma guerra triste que não se acaba.
Agora, não satisfeito de já ter ocupado quase todo o território palestino, o estado de Israel perpetua, com o silêncio mundial, outra violência inominável. Cercando os lugares onde vivem os palestinos foi construído um muro. Imenso. As gentes palestinas estão confinadas em campos de concentração. Entram e saem, é verdade, mas sempre passando pela humilhação diária de revistas e assédio dos soldados que “cuidam” da absurda fronteira imposta pelo concreto.
E assim, cercados, os palestinos vão construindo, na mente e no corpo, a idéia de um tempo em que a liberdade virá. Enquanto isso, sonham. Coisa subversiva e perigosa. Sonham... E, milagrosamente, no grande e absurdo muro, quando chegam as manhãs, as gentes são surpreendidas por essa louca esperança de libertação. No concreto frio, as cores da vida enchem a paisagem. Desenhadas no umbral de seu próprio inferno, estão as imagens do desejo. Uma tesoura cortando o cimento, uma janela escancarada para a paisagem da vida, uma criança carregada por balões em direção ao alto, uma escada por onde se pode chegar ao outro lado, o céu azul. A arte, subversiva e guerreira, aquece as almas de uma gente que espera. Nem quieta, nem em paz. Espera na luta, na certeza... Vai chegar... Vai chegar essa manhã esperada, desenhada, profetizada... Vai chegar!!!
Veja o muro...
- Elaine Tavares – jornalista no OLA América Latina Livre - www.ola.cse.ufsc.br
https://www.alainet.org/de/node/114883?language=es
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