Autismo

01/02/2006
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A prolongada crise política não terminou, e os resultados das CPI´s que fazem o mais sensacionalista “striptease” político no Big Brother Brasil fogem a qualquer previsão racional. Por enquanto, prevalece a imponderabilidade do que poderá derivar dos arranjos casuísticos e da correlação de forças entre governo e oposição. Nos bastidores, começam as movimentações para a definição das pessoas e empresas que serão formalmente citadas nos relatórios finais das CPI´s. Na semana passada, a oposição manobrava para incluir o presidente Lula no relatório parcial da CPI dos Correios, e hoje (31/01) na votação havida o ministro Palocci não foi incluído no relatório da polivalente CPI dos Bingos, embora seu ex-chefe de gabinete figure dentre os que serão indiciados. Apesar de se saber que o rombo provocado no governo e no PT já é considerável e diminuirá em muito as potencialidades eleitorais do partido, não se pode desprezar que os estragos poderão ser ainda mais danosos, dependendo das condições em que se encerrarão os trabalhos das CPI´s e da construção imaginária que a mídia conservadora continuará fazendo deste episódio. Infelizmente, parece que o presidente Lula não recolheu as lições produzidas por esta gravíssima crise. Aliás, na entrevista concedida ao animador do BBB na fantástica entrevista transmitida no programa dominical da Rede Globo, a impressão deixada pelo presidente é a de que o governo se mantém na defensiva e não conseguiu construir uma análise-síntese que possa organizar uma reação mais efetiva nos planos da política e da propaganda sobre os acontecimentos. Em um momento em que o governo deveria coesionar e compactar sua base parlamentar e social, o presidente começa a desenhar os parâmetros do seu projeto re-eleitoral, trilhando perigosamente o mesmo caminho e fazendo os mesmos atalhos que estão na gênese da presente crise. Parece que estão sendo repetidos todos os passos que estão na origem da crise que continua corroendo a imagem e a identidade do PT e do governo. Por fora e acima do PT, o presidente arma o próprio jogo sucessório que será apresentado ao partido como uma equação pronta a ser digerida sem condicionalidades, como já ocorreu em 2002. É oferecida a candidatura de vice-presidente ao PMDB, é sugerida a entrega da coordenação de campanha ao Palocci e o debate programático deverá ser relegado a algum mago do marketing político que definirá a alquimia programática a partir da soma das partes exóticas que constituirão o condomínio eleitoral. O que muda é que desta vez o mago não será o Duda Mendonça. É desprezada a resolução do novo Diretório Nacional do PT extraída no primeiro encontro da instância partidária após o processo interno de eleições diretas. A orientação política do Diretório corretamente sinalizou que a resposta e a saída da crise devem estar justamente no fortalecimento dos compromissos programáticos e populares que deram origem a este governo. Se não houver mudança desta rota, o PT e o governo não só desperdiçarão oportunidades importantes de recomposição após o terremoto ocorrido, como também poderão amargar derrotas ainda maiores e o esvaziamento do que resta da confiança de sua militância e dos setores simpáticos da sociedade à esquerda do país. Os milhares de ativistas de todo o mundo que estiveram presentes no 6º Fórum Social Mundial na Venezuela deram uma demonstração inequívoca de que a esquerda aprendeu muito com os erros do passado e soube tirar os melhores ensinamentos das derrotas e reveses sofridos, em particular no hemisfério latino-americano. Na Venezuela o sectarismo ultra-esquerdista ficou subsumido diante da madura consciência dos distintos setores da esquerda de que, mesmo com as contradições do atual governo, é essencial para a continuidade dos avanços democráticos e populares no continente a re-eleição de Lula e o impedimento do retorno da direita e do neoliberalismo ao comando do Brasil. Se tivesse ido a Caracas, Lula teria testemunhado este sentimento e se conscientizado de que os que ainda depositam esperança no futuro do Brasil estão dispostos a dar o melhor de suas forças para reconduzi-lo à presidência. Lula, contudo, tem de demonstrar que deseja vencer fazendo mudanças, ao invés de perseguir os caminhos que poderão pavimentar a auto-derrota. - Jeferson Miola, integrante do IDEA – Instituto de debates, estudos e alternativas de Porto Alegre, foi Coordenador-Executivo do V o Fórum Social Mundial de 2005.
https://www.alainet.org/de/node/114207
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