Lula em Porto Alegre e em Davos

31/01/2003
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- Mas o maior desafio é a guerra - Lula é um sucesso onde vá. E é bom que seja assim. Ele representa hoje não apenas a esperança de muitos milhões de brasileiros, mas de muitos milhões mais pelo mundo afora, o sucesso de seu governo marcará a entrada do mundo numa era posneoliberal, assim como um eventual fracasso será um duro golpe no movimento que desde 1994 com os zapatistas, passando por Seattle e desembocando em Porto Alegre, lutando por "um outro mundo possível". Foi assim em Porto Alegre e em Davos, onde Lula foi bem recebido, suas viagens foram um sucesso político. Em Porto Alegre seu discurso foi de reafirmação de suas convicções e de seus compromissos, em Davos foi de lançamento da idéia de uma campanha mundial contra a fome. Os discursos não foram os mesmos, nem na forma, nem no conteúdo e nem poderiam ser. Se fala para quem escuta e seria uma ofensa às dezenas de milhares de pessoas que foram vê-lo no Por-do-Sol se Lula falasse como se estivesse falando para os milhões (de dólares) de Davos. Até mesmo porque se Lula tivesse proposto, em Porto Alegre, o diálogo com Davos, os protestos sobre sua ida ao Fórum Econômico Mundial não teriam ficado naquilo. Todos os dirigentes do Fórum Social Mundial se pronunciaram contra esse diálogo. Se Lula tivesse ido a qualquer outro lugar, teria sucesso atualmente – Banco Mundial, FMI, OMC, Vaticano, Parlamento Europeu. O Fórum de Davos não deixou de ser um cemitério pela sua ida. Veja-se que nenhum mandatário – presidente ou primeiro-ministro, que apoie Bush ou que proteste contra a guerra, de direita ou de esquerda – foi a Davos, embora pudessem ter dado uma chegadinha de helicóptero em poucas horas. Sintoma de que pode ser provinciano ir a um lugar que já foi prestigioso no passado, mas que feneceu com a crise do capitalismo norte- americano. Mais importante: a ida foi muito ruim para o maior movimento anti-globalização neoliberal existente hoje no mundo – o movimento europeu. Este se sentiu traído, com a utilização pelos dirigentes de Davos da ida de Lula, respondendo às críticas de que Davos morreu com essa viagem do principal dirigente do movimento que deseja criar um mundo alternativo. Essa é a nossa principal força – a mobilização popular, principal das novas gerações que ocupam as ruas e praças de Barcelona, de Londres, de Paris, de Gênova, de Florença, que precisam acreditar em novos valores, em comportamentos que não troquem os ideais por pragmatismos e realismos, que tantos reveses produziram no passado. A ida a Davos não muda a política externa brasileira – excelente em todos os planos. A guerra será o grande teste, tanto para essa política quanto principalmente para a política econômico-financeira do novo governo. Se tomar a guerra como razão para ser mais conservadora, terá perdido uma grande oportunidade. Se tomar a guerra como oportunidade para afirmar a soberania e a capacidade de buscar vias alternativas de desenvolvimento – com aceleração da integração regional, com reativação do mercado interno, contando com todo o extraordinário potencial que o Brasil possui – terá dado aquele que pode ser o passo fundamental para o sucesso do governo Lula, um incentivo formidável à construção de "um outro mundo possível".
https://www.alainet.org/de/node/106878
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