América Latina na nova "guerra fria"
30/11/2001
- Opinión
O presidente mexicano Vicente Fox havia visitado seu amigo e vizinho,
o presidente dos EUA, Georges Bush, buscando concessões nos direitos
dos imigrantes do seu país, conforme um dos seus itens de campanha, na
véspera de 11 de setembro. Poucos dias depois Fox manifestou sua
solidariedade com o governo norte-americano – até o ponto de oferecer
o petróleo mexicano para apoiar EUA na sua nova guerra – e voltou a
visitar seu vizinho, diante de um quadro em que o tema da imigração
está posto ao revés – como formas de sua limitação e como direitos
policiais Essas mudanças são paradigmáticas do que mudou para a
América Latina a partir de 11 de setembro.
O século passado foi o primeiro em que a América Latina conseguiu
conquistar um espaço internacional. Até ali ela praticamente não
existia. Apenas começado o século XX, o massacre dos operários nas
minas de Santa Maria de Iquique, no Chile, e a revolução mexicana,
demonstraram que se entrava a um período conturbado, de revoluções e
contra-revoluções. A reforma universitária de Córdoba, a revolução de
30 no Brasil, as sublevações camponesas em El Salvador, o governo
socialista dos anos 30 e o governo da Frente Popular no Chile, o
movimento de Sandino na Nicarágua, o governo de Lázaro Cárdenas no
México, com a nacionalização do petróleo e a reforma agrária, entre
outros fenômenos, confirmavam essa tendência.
Como fenômeno econômico-social de fundo, alguns países –
particularmente o México, a Argentina e o Brasil – romperam com a
divisão existente ate ali entre economias industrializadas no centro
do capitalismo e agrícolas ou mineiras na periferia, avançando na
construção de processos de industrialização na periferia do
capitalismo, mudando o cenário histórico de várias sociedades do
continente. O Brasil, por exemplo, passou, em poucas décadas, de um
país agrário e agrícola, a urbano e industrial, num processo contínuo
dos anos 30 aos 80 do século passado.
Exatamente os países mais avançados do continente refletem, no seu
destino nas duas últimas décadas do século, a nova cara da América
Latina, quando a crise das dívidas freia os ciclos econômicos de
expansão, a partir de 1980. O México, depois de passar por duas graves
crises, uma em cada uma das duas décadas, apresenta uma economia que,
integrada ao Nafta, tem 90% do seu comércio exterior com os EUA, o que
lhe propiciou carona no momento de crescimento e, agora, na ressaca,
vê sua economia baixar de 7% de expansão no ano passado, para índices
próximos de zero.
O Brasil entrou em décadas de baixo crescimento – e não de apenas uma
década perdida – a partir da crise da dívida, passando posteriormene a
privilegiar a estabilidade monetária em ligar do crescimento. A
Argentina foi o país que apresentou maior quantidade de mudanças,
todas negativas, num dramático quadro de regressão de proporções
civilizatórias.
A instauração de um clima de guerra fria desloca para os protagonistas
militares – e particularmente para os localizados no território
privilegiado dos conflitos – o centro do novo cenário. A Rússia e a
China passam ou voltam a ser parceiros preferencias dos EUA, em
detrimento da Europa – salvo os parceiros britânicos – e da América
Latina.
A Alca pode ter até antecipada sua data de vigência dos acordos, se o
governo norte-americano consegue implantar novas prioridades no
Congresso, uma antecipação que frustraria a possibilidade de o Brasil
poder reorganizar forças – no continente e fora – para um outro
projeto, conforme o resultado das eleições presidenciais do ano que
vem. Os trabalhadores imigrantes terão problemas crescentes nos EUA. A
recessão norte-americana jogou as economias do continente para baixo.
O Plano Colômbia pode ter acelerado sua colocação em prática.
Enfim, nada de bom pode se esperar para a América Latina na nova
conjuntura. Boa oportunidade para que o continente se articule em
função de suas próprias necessidades e deixe de ser caudatário de
políticas em que somos simplesmente objetos dos interesses das grandes
potências econômicas e dos organismos financeiros e comerciais
internacionais que agem de acordo com esses interesses. Caso
contrário, além de se tornar zonas de mão-de-obra barata para as
corporações do norte – como as zonas de maquila no México -, seremos
retaguarda de apoio para as novas guerras das potências imperiais.
Milonga economicista:
Apesar da previsão de estagnação econômica para a América Latina no
ano que vem, a Cepal – Comissão Econômica para a América Latina –
prevê uma "rápida recuperação da economia argentina"(sic). "Andá
cantarle a Gardel", como dizem os portenhos.
https://www.alainet.org/de/node/105452
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